terça-feira, 22 de setembro de 2009

Matemática não é um bicho de sete cabeças

Em 2005, desenvolvi essa atividade com meus alunos do 5ºano. Foi numa semana de Ciências programada pela escola. Cada classe deveria apresentar um tema. Nós escolhemos "Matemática". Mas foi uma "MATEMÁTICA DIFERENTE".A matemática ensinada há milhares de anos atrás, exatamente no Egito antigo, às margens do Rio Nilo.
Nossa base de estudo, um livro intitulado: "MEU AVÔ, UM ESCRIBA" de Oscar Guelli.
Aprendemos, neste livro não só conceitos matemáticos como também um pouco dos hábitos e costumes do povo egípcio.
Conta-nos o autor, que os meninos egípcios estudavam até os 15 anos com o objetivo de se tornarem escribas. Sob um regime cruel e rigoroso, pois eram surrados com chicotes, eles aprendiam a calcular e escrever. Seu material escolar, uma tabuleta de barro cozido, e um estilete com ponta de ferro usado como lápis para escrever na tabuleta, seu caderno.
O turno diário de estudos iniciava-se ao amanhecer e assim seguiam até o pôr-do-sol.
Ser escriba era uma função importante no Egito e cabiam a eles anotar na tabuleta de barro cozido com o estilete de ponta de ferro, desde os contratos de casamento, a venda de casas, campos e escravos, as dívidas em dinheiro e os contratos do cultivo de palmeiras.
Também escreviam em papiros, feitos de uma planta que crescia às margens do Rio Nilo, onde os registros eram feitos com uma penas de taquara e tinta.
Como cita o livro, o ensino da matemática começava cedo, juntamente com o aprendizado da leitura e escrita. O sistema de numeração egípcio era baseado em agrupamentos representado por marcas, tipo bastão |.
O número 1 significava |, 2 || e assim até 9 |||||||||. Quando se obtia a quantia 10, eles trocavam as dez marcas: |||||||||| por U de cabeça para baixo , que indicava o agrupamento.

A multiplicação e a divisão egípcia usava um método de tabela, onde os números iam se dobrando, até seis vezes ou mais dependendo do valor do multiplicando ou do dividendo.
A tabela continha duas colunas, onde de um lado, se coloca sempre , tanto na divisão quanto na multiplicação, o número 1 e vai se dobrando na sequência:1 /2/4/8/16/32/64 etc. Na segunda coluna da tabela coloca-se o multiplicando, se for multiplicação ou o divisor ser for divisão e procede dobrando o número até o final de linhas das colunas, que é determinado pela primeira.

Na multiplicação, temos dois fatores, o multiplicando e o multiplicador.No caso da multiplicação do número 23 x 12, teríamos o 2ºfator, o 12 na 2ª coluna, primeira linha da tabela, assim: 1 | 12 .De um lado ficamos com 1/2/4/8/16/32/64 e do outro lado da tabela 12/24/48/96/192/384/768

1 12
2 24
4 48
8 96
16 192
32 384
64 768

Vamos procurar na tabela, na primeira coluna os números cuja soma corresponde ao 1ºfator , ou seja o multiplicando que é 23. Encontramos os números 16 + 4 + 2 + 1 = 23. Localizamos na tabela o número que corresponde ao 16(192),4(48),2(24) e ao 1(12). Fazemos a adição desses valores 192 + 48 + 24 + 12 = 276

A conta 23 x 12 tem como resultado o produto 276.

Na divisão, seguimos o mesmo processo. Calculamos o resultado de 657 : 5 ,onde 657 é o dividendo e 5 é o divisor, do seguinte modo. Na tabela, 1ª coluna, dobramos novamente o número 1. E na segunda, dobramos o divisor(5).Deste modo, obtemos a seguinte tabela:

1 5
2 10
4 20
8 40
16 80
32 160
64 320
128 640

A seguir, procuramos na coluna do divisor, que é a 2ªcoluna,os números cuja soma é o número 657, ou seja o dividendo. Encontramos o 640 + 10 + 5= 655. Localizamos na tabela os números correspondentes ao 640(128),10(2),5(1). A soma desses valores 128 + 2 + 1 é igual ao resultado da conta. Nem toda conta é exata. Neste caso há resto.

657:5 = 131 e o resto é a diferença entre 655 e 657. Não é fácil demais?

Ao calcularmos como os egípcios, ensinamos não só a dobrar o número, como também a fazer inferência matemática, localizando em tabela informações explícitas e implícitas.
Exercitamos o cálculo mental e descobrimos que a matemática não é uma matéria rígida em seus modos de aprender. Há várias opções para se chegar a uma solução, sem se tornar algo cansativo, chato, difícil,confuso. Procurar uma forma de ensinar que possibilite um novo olhar, faz com que as crianças se sintam vencedoras e se apaixonem por esse bicho de sete cabeças que não passa de uma nuvenzinha de fumaça que se esvai com o vento.

Esta foi a minha aula de hoje, pois encontrei o mesmo livro na biblioteca da escola e fiz dele, um objeto de conhecimento e de estratégias de ensino.

Rita Minuncio

Nenhum comentário:

Postar um comentário